Existe hoje dentro das igrejas uma corrente de pensamento que vem formando opiniões e levantando debates ferrenhos entre líderes e liderados, pastores e ovelhas: A UNIÃO ESTÁVEL. Alguns, de forma liberal, acham que é legal, portanto deve ser entendido como se fosse um casamento, mas preste atenção no termo: COMO SE FOSSE, então não é casamento. Na união estável se a pessoa é solteira, após fazer o registro da união, ela continuará solteira, enquanto que no casamento há uma mudança no estado civil e até a documentação precisará ser alterada. Os favoráveis se apegam à questão jurídica e os contrários se apegam às questões espirituais. Mas à luz da Palavra de Deus como fica esta história?
Vejamos:
1. Diferenciando o casamento da união estável quanto ao seu propósito
É inegável que a tendência do direito é aproximar cada vez mais os dois institutos. Mas a diferença fundamental, que se reflete no campo da espiritualidade e do aconselhamento pastoral, não está no campo dos direitos civis, mas na própria natureza e origem das duas modalidades.
Silvio Rodrigues, famoso doutrinador de Direito, ensina que: "Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem a mútua assistência".
Por sua vez, a União estável, nas palavras de Sílvio de Salvo Venosa, outro jurista: “configura-se pela convivência do homem e da mulher sob o mesmo teto ou não, more uxório, como se fossem casados marido e mulher. A natureza da união estável é fato social e fato jurídico. Fato jurídico é qualquer acontecimento que gera consequência jurídica. A união estável é um fato do homem que, gerando efeitos jurídicos, torna-se um fato jurídico” (Sílvio de Salvo Venosa).
Como se pode sentir, a distância entre as duas figuras está no seu propósito.
No casamento, sobretudo o cristão, o casal se une (contrato, pacto) para criar uma nova família com o objetivo de fazê-la dar certo; ou seja, o compromisso, que se propõe eterno, vem antes da família. A família é o alvo buscado em função do compromisso. No casamento, o pacto (ato de união solene), já que assumido diante de Deus e da igreja, gera por si só o compromisso. No altar, os noivos se assumem como casal e prometem fidelidade e amor até que a morte os separe.
Na união estável não há nenhum compromisso público que inaugure a relação. Esta união só se tornará estável, e então passará a gozar de relevância jurídica, se o tempo a confirmar. A constituição de família, no sentido de um objetivo firme e permanente, é acidental à união do casal. Estável é a união que deu certo. Na união estável, o compromisso (estabilidade) é que poderá gerar o pacto, isto é, o reconhecimento dos direitos legais pelo Estado.
Em suma, o casamento é um pacto público para a vida toda e a união estável é apenas uma situação de fato que a lei lhe empresta certos efeitos jurídicos.
Creio que a resposta se a união estável é ou não pecado está justamente nesse ponto: em que Deus não espera que homem e mulher se testem sentimental e sexualmente para verificar se poderão viver juntos, mas que o homem deixe seus pais e se ligue a uma mulher com ânimo definitivo a fim de que ambos sejam uma só carne (Gênesis 2.24).
2. O que as ovelhas realmente necessitam de seu pastor?
Identificado o pecado da vida sexual fora do casamento, agora surgem outros problemas: O que deverá fazer o pastor quando um casal amasiado lhe pede socorro nas questões que envolvem conflitos de relacionamento? Poderá o pastor deixar de lado a questão do pecado quando se tratar de cuidar de aconselhar os casais amasiados em suas crises conjugais?
Creio que a resposta dependerá das lentes com as quais se vê o problema.
O humanista liberal certamente argumentará que o mais importante de tudo é o bem-estar do ser humano, pois Deus, a Bíblia e o Evangelho apontariam para esse fim último. Por essa vertente, o pastor deve perpassar a questão do pecado, abster-se de fazer juízo sobre a situação e proporcionar o cuidado pastoral de acordo com as necessidades dos aconselhados.
O cristão conservador centrado na santidade de Deus sustentará que tudo flui no sentido, não da satisfação humana, mas da glória de Deus. Todo relacionamento deve ser direcionado para agradar a Deus, visto que é por meio da adoração que o ser humano encontra o seu propósito e, em última instância, a sua plena satisfação na vida.
Humanista e conservador concordarão que o pastor deverá oferecer aos aconselhados o que necessitam, e não necessariamente o que eles querem. A questão, então, residirá no que se pensa que as ovelhas realmente necessitam.
O humanista dirá: “os indivíduos necessitam se sentir bem, serem resolvidos consigo mesmos e felizes, independentemente de padrões morais preestabelecidos. Podem ir para o inferno, desde que vão sorrindo”.
O conservador, por sua vez, proclamará: “os indivíduos necessitam ser santos, ser adoradores, e o pecado, por mais que seja confortável à carne, não acalentará os anseios mais profundos da alma. Não há alegria plena quando se permanece no pecado, mas quando se vive em conformidade com a vontade de Deus”.
Como pastor, eu me inclino mais a pensar que minha responsabilidade mais séria será sempre a de conduzir as ovelhas à salvação e à santidade, e não a de produzir algum tipo de contentamento terreno e passageiro.
Um amor verdadeiro e responsável não é o que fecha os olhos para o destino eterno das pessoas.
Assim, na questão proposta, esforçando-me na compaixão, não posso fechar os olhos para o pano de fundo do pecado na questão da união estável.
Devemos obedecer as Leis Divinas e Humanas, mas quando houver conflitos, permaneçamos fieis ao Senhor!
Um abraço no seu coração
Fique na Graça e na Paz do Senhor Jesus